Homenagem à velha guarda

Uma das atrações da Flufest ocorrida no último sábado foi a homenagem a jogadores do Fluminense das décadas de 40 e 50. Originalmente seria uma homenagem aos campeões invictos do Torneio Rio-São Paulo de 1957, título que está completando 60 anos, mas acabou sendo mais abrangente, reunindo ex-jogadores e familiares de diferentes épocas.

Idealizada pelo amigo tricolor Jorge Priori e prontamente abraçada pelo Flu-Memória e incorporada à FluFest, a homenagem contou com a presença dos jogadores Jair Marinho (orgulhosamente representando também seu amigo Altair, que por questões de saúde não pôde comparecer), Joel, Emílio, Índio e Adalberto. Compareceram ainda familiares de alguns campeões do Rio-SP de 1957 que já nos deixaram: Marli, filha do volante Jair Santana, e família, Heloísa, esposa do lateral-direito Cacá e Marlene Bahiense, irmã do volante Ivan, e família. Era esperada também a presença de Escurinho, Jair Francisco e do goleiro Alberto, mas infelizmente isso acabou não ocorrendo.

fluminense.com.br 20.07.2017

Joel, campeão pelo Fluminense em 1951, e Jorge Priori, idealizador da homenagem. Foto de Mailson Santana/Fluminense FC

O evento foi organizado pelo próprio Priori com a ajuda de José Rezende, Valterson Botelho e com uma pequena colaboração deste que vos escreve, além da imprescindível participação do Flu-Memória, através de Dhaniel Cohen e Heitor D’Alincourt. Na cerimônia realizada no parquinho os jogadores receberam presentes do clube, entregues pelo presidente Pedro Abad. Depois seguiram para o gramado do estádio Manoel Schwartz onde por tantas vezes suaram a camisa tricolor, para receber o carinho dos torcedores.

Joel, Adalberto, Jair Marinho e Emilio

Eu tietando Joel, Adalberto, Jair Marinho e Emílio

Um merecido reconhecimento àqueles que ajudaram a escrever a vitoriosa história do Fluminense. Apresento abaixo um pequeno histórico de cada um dos homenageados.

Índio

Indio

Com 97 anos de idade é o jogador mais antigo do Fluminense ainda vivo. Veio do São Cristóvão e atuou pelo Tricolor nas temporadas de 1948 e 49. Jogava na linha média, geralmente como “half-direito”, mas também como “center-half” (lateral direito e volante numa analogia com o futebol atual) sempre de rede ou boina para evitar que os cabelos caíssem nos olhos e atrapalhassem sua visão durante as partidas.

Sua grande façanha pelo Fluminense foi a conquista do Torneio Municipal de 1948. Índio foi um dos destaques da heroica resistência que o Fluminense impôs ao expresso da vitória vascaíno no jogo decisivo. Orlando Pingo de Ouro abriu a contagem logo nos primeiros minutos da partida com uma linda bicicleta e a defesa tricolor, atuando com bravura, garantiu o resultado até o fim. O Fluminense jogou quase todo o segundo tempo com dois jogadores apenas fazendo número em campo. O zagueiro Haroldo e o centroavante Rubinho se contundiram e na época não eram permitidas substituições. Foi uma autêntica proeza. Fato curioso é que Índio havia se casado naquela tarde e teve que ir da igreja diretamente para General Severiano, onde o jogo foi disputado à noite.

Outra curiosidade sobre Índio, que fez 97 jogos e 6 gols pelo Fluminense, é que ele foi um dos fundadores da escola de samba Imperatriz Leopoldinense.

Emílio

Emilio

Foi um meia que veio do Ferroviário de Curitiba (avô do Paraná Clube) e assim como Índio jogou pelo Fluminense no biênio 1948-49, participando da memorável conquista do Torneio Municipal de 1948. Fez 26 jogos e 10 gols pelo Fluminense.

Estudante de engenharia, acabou optando por abandonar precocemente a carreira de jogador, aos 24 anos, devido às dificuldades de conciliá-la com os estudos.

Fez longa e bem sucedida trajetória na vida pública ocupando cargos importantes tais como Presidente da ADEG, órgão que administrava o Maracanã, secretário de obras públicas do estado, diretor de Furnas, presidente da CBTU, entre diversos outros.

Com 91 anos de idade a memória do simpático jogador impressiona. Ainda lembra com detalhes diversos jogos em que atuou. Em especial o gol de sem pulo que marcou em um Fla-Flu de 1949 vencido pelo Fluminense por 5×2.

Adalberto

Adalberto

O goleiro Adalberto jogou 54 vezes pelo Fluminense no período de 1950 a 1955. O número relativamente pequeno de partidas se explica pelo fato de ter sido contemporâneo de dois dos maiores goleiros da história não só do Fluminense mas do futebol brasileiro: Castilho e Veludo. Quando os dois estavam na Seleção Brasileira para a disputa da Copa do Mundo de 1954, Adalberto viveu seu melhor momento nas Laranjeiras, sendo titular na campanha do Torneio Rio-São Paulo daquele ano, quando o Fluminense foi vice-campeão. Na sequência, ainda como titular, levantou o título do Torneio Início.

Como reserva, Adalberto fez parte do elenco campeão carioca de 1951 e da Copa Rio/Mundial de 1952. Nas categorias de juvenil e aspirantes foi campeão carioca por sete anos consecutivos no Fluminense. Juvenil entre 1948 e 1950, aspirante de 1951 a 1954.

Foi ainda preparador físico da Máquina Tricolor do presidente Francisco Horta nos anos de 75 e 76.

Jair Marinho

Jair Marinho

Surgiu no time juvenil do Fluminense que conquistou o Campeonato Carioca de 1955. Aquela equipe revelou uma série de jogadores que viriam a compor o elenco profissional do clube no final dos anos 50, tais como Altair, Alecyr, Romeu, Roberto, o goleiro Alberto (que também seria homenageado na FluFest, mas infelizmente não compareceu) e Écio, este último tendo jogado com mais destaque pelo Vasco.

Em 1957 fez sua estreia no profissional tendo feito parte do grupo que levantou o título do Rio-São Paulo daquele ano na reserva de Cacá (outro homenageado do dia). No mesmo ano foi campeão carioca de aspirantes.

A partir de 1958 começou a figurar como titular, sendo um dos destaques do timaço que levantou o Campeonato Carioca de 1959 e o Rio-São Paulo de 1960. Suas grandes atuações com a camisa tricolor o levaram à Seleção Brasileira, tendo sido convocado para a Copa do Mundo de 1962.

Durante um jogo contra o Botafogo pelo Rio-São Paulo de 1963 fraturou a tíbia após uma entrada violenta do atacante Amarildo, em dia de “possesso”. Durante o longo período de recuperação perdeu a posição para Carlos Alberto Torres, promovido dos juvenis, e acabou se transferindo para a Portuguesa-SP no ano seguinte.

Fez 258 jogos pelo Fluminense.

Joel

Joel

Também oriundo das categorias de base o ponta-esquerda Joel fez sua estreia no time profissional em 1948. Seu melhor momento no Fluminense foi na campanha do título carioca de 1951. Era o titular e cobrador oficial de pênaltis do time, marcando 7 gols naquela campanha vitoriosa.

Fez 61 jogos e 18 gols pelo Fluminense. Cita como jogo inesquecível a vitória sobre o Bangu por 5×3, no primeiro turno do campeonato de 51.

Foi também campeão de aspirantes em 1951 (embora fosse titular nesse ano, fez 4 partidas no campeonato de aspirantes), 1952 e 1953.

Aos 86 anos permanece ligado ao clube sendo atualmente funcionário do Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras, em Xerém.

Jair Santana

Jair Santana

Veio do Olaria em 1952 e jogou no Fluminense até 1960 totalizando 332 jogos e 8 gols pelo clube. Jogava na linha média, como volante, e colecionou títulos nas Laranjeiras, a saber: Copa Rio/Mundial em 1952, Campeonato Carioca em 1959, Torneio Rio-São Paulo em 1957 e 1960, Torneio Início em 1954 e 1956, Torneio José de Paula Júnior em 1952 e Copa das Municipalidades em 1953.

Tive a honra de conhecê-lo em 2012, durante as comemorações dos 60 anos do mundial de 52. Era então o último titular vivo daquele título.

Cacá

Caca

Oriundo do América, precedeu Jair Marinho na lateral direita tricolor, onde jogou de 1955 a 1958, totalizando 124 jogos.

Abra-se um parêntesis: com Píndaro, Cacá, Jair Marinho, Carlos Alberto Torres, Oliveira, Toninho e novamente Carlos Alberto Torres, o Fluminense teve uma sequência extraordinária de grandes laterais direitos entre os anos 50 e 70.

Cacá foi campeão do Torneio Início de 1956 e do Torneio Rio-São Paulo de 1957. Faleceu muito recentemente, no dia 7 de junho último, aos 84 anos de idade.

Ivan

Ivan

Assim como Cacá o volante Ivan veio do América, clube que defendeu por muitos anos e onde figurou em grandes times, chegando a ser convocado para a seleção. Já era um jogador na casa dos 30 anos quando foi contratado pelo Fluminense. Estreou na segunda rodada do Torneio Rio-São Paulo de 1957, quando o Tricolor goleou espetacularmente o Palmeiras por 5×1. O time se encaixou de tal forma com sua entrada que não saiu mais, atuando em todos os jogos até a conquista do título. Ficou nas Laranjeiras até 1959 totalizando 79 jogos e 6 gols.

Na próxima semana voltarei ao tema do post “Marco Zero”. Há novidades.

A imagem que ilustra o post é de Mailson Santana/Fluminense FC

8 comentários

  1. Que lindas estórias que fazem a nossa HISTÓRIA. Jogadores sensacionais e com tuas pitadas, vamos aprendendo e amando cada vez mais. Desconhecia completamente essa estória do Ecio. Lindo o Indio. Um gigante!!!!
    Obrigado! Grande beijo!

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