Em 2020 o Fluminense estará completando oito anos sem conquistar o título estadual. Já quase repete o sofrido jejum de 1985 a 1995, encerrado com o histórico Fla-Flu do gol de barriga. O Campeonato Carioca é uma competição que o Fluminense tem tido enorme dificuldade em vencer desde que a dinastia Caixa D’água/Rubinho assumiu o comando da FERJ.
Alguém pode argumentar que o Fluminense não ganha o título desde 2012 porque tem montado equipes fracas, especialmente após a saída da Unimed. Não deixa de ser um pouco verdade. Também não deixa de ser verdade que não é necessário ter um timaço para conquistar esse campeonato decadente. Vários times sofríveis levantaram a taça nesse período de seca do Flu. Teve até time que ganhou o carioca e no mesmo ano foi rebaixado no brasileiro.
Podemos até admitir a hipótese de que o Fluminense não tem sucesso no Campeonato Carioca exclusivamente por não ter times fortes. Mas e quando tinha? Vamos analisar o período entre o ano 2000, que marca a volta do Fluminense à série A do Campeonato Brasileiro, e 2014, o último da Unimed no clube. Uma amostra razoável de 15 temporadas nas quais o Fluminense reconhecidamente quase sempre teve boas equipes.
Se somarmos todos os pontos conquistados no Campeonato Brasileiro ao longo desse período, o Fluminense é disparado o time de melhor desempenho entre os cariocas com 845. O Flamengo vem bem abaixo com 763, ou seja, 82 pontos a menos. Botafogo e Vasco nem aparecem no retrovisor. Estão quase 200 pontos atrás. Veja a tabela abaixo.
Pontuação em Campeonatos Brasileiros de 2000 a 2014:
PG | J | V | E | D | GP | GC | |
Fluminense | 845 | 560 | 232 | 149 | 179 | 832 | 745 |
Flamengo | 763 | 552 | 201 | 164 | 187 | 730 | 719 |
Botafogo | 667 | 506 | 175 | 142 | 189 | 684 | 692 |
Vasco | 663 | 484 | 175 | 138 | 171 | 710 | 705 |
Nesse período o Fluminense conquistou dois brasileiros, Vasco e Flamengo um, e o Botafogo nenhum.
Entre 2000 e 2014, nos clássicos contra os times grandes de outros estados, o Fluminense teve um aproveitamento de 47,22% e um saldo positivo de 8 vitórias.
Desempenho do Fluminense em clássicos interestaduais de 2000 a 2014:
Adversário | J | V | E | D | GP | GC | % |
Atlético-MG | 28 | 7 | 11 | 10 | 36 | 41 | 38,10% |
Corinthians | 35 | 13 | 11 | 11 | 40 | 35 | 47,62% |
Cruzeiro | 29 | 14 | 6 | 9 | 50 | 44 | 55,17% |
Grêmio | 37 | 13 | 11 | 13 | 48 | 52 | 45,05% |
Internacional | 29 | 12 | 9 | 8 | 45 | 31 | 51,72% |
Palmeiras | 28 | 11 | 4 | 13 | 40 | 43 | 44,05% |
Santos | 31 | 13 | 7 | 11 | 42 | 49 | 49,46% |
São Paulo | 35 | 14 | 7 | 14 | 50 | 49 | 46,67% |
TOTAL | 252 | 97 | 66 | 89 | 351 | 344 | 47,22% |
Agora passemos ao Campeonato Carioca durante o mesmo período. Dentro dos domínios da FERJ as coisas se invertem completamente. De melhor pontuador entre os quatro grandes o Fluminense passa para a última colocação.
Pontuação em Campeonatos Cariocas de 2000 a 2014:
PG | J | V | E | D | GP | GC | |
Flamengo | 511 | 264 | 151 | 58 | 55 | 514 | 319 |
Botafogo | 495 | 257 | 144 | 63 | 50 | 523 | 311 |
Vasco | 490 | 256 | 148 | 52 | 56 | 537 | 281 |
Fluminense | 463 | 256 | 135 | 58 | 63 | 516 | 311 |
Nos clássicos cariocas o desempenho despenca em relação aos clássicos nacionais, passando de 47,22% para 37,72% de aproveitamento, com um saldo negativo de 20 derrotas.
Desempenho do Fluminense em clássicos estaduais de 2000 a 2014:
Adversário | J | V | E | D | GP | GC | % |
Botafogo | 53 | 16 | 20 | 17 | 66 | 65 | 42,77% |
Flamengo | 56 | 17 | 17 | 22 | 79 | 80 | 40,48% |
Vasco | 58 | 9 | 26 | 23 | 69 | 89 | 30,46% |
TOTAL | 167 | 42 | 63 | 62 | 214 | 234 | 37,72% |
Se contra os grandes de SP, RS e MG, em tese até mais difíceis que os grandes do Rio, o Fluminense leva vantagem em vários confrontos, dentro do Rio simplesmente perde todos.
Foi ainda durante o período em análise, um dos melhores da história tricolor, que o Flamengo nos ultrapassou em número de títulos estaduais.
Qual seria a explicação para uma discrepância tão gritante entre os números do Fluminense no estadual e no brasileiro? Reparem que entre os outros clubes isso não ocorre. Flamengo, depois Botafogo, depois Vasco. Essa sequência se repete tanto no Carioca quanto no Brasileiro. O que muda é a posição do Fluminense. A frente de todos eles no Brasileiro e abaixo de todos no Carioca.
Na falta de uma explicação publicável, vamos fingir que é uma mera questão de azar. O Fluminense dá azar em campeonatos organizados pelo Caixa D’água ou pelo Rubinho. Vejamos os últimos Campeonatos Cariocas:
Em 2018 demos o AZAR do árbitro Rodrigo Nunes de Sá inverter um lateral na semifinal entre Fluminense e Vasco que acabou resultando no gol da eliminação tricolor aos 49 minutos do segundo tempo.
Em 2017 demos o AZAR do árbitro Wagner do Nascimento Magalhães não marcar falta de Réver em Henrique no lance do gol do Flamengo que evitou que a decisão do título fosse para a disputa de pênaltis. Uma disputa que teria de um lado o goleiro Diego Cavalieri, que eu eu nunca vi deixar de pegar pelo menos uma das cinco cobranças, e do outro Muralha, que nunca defendeu um pênalti na vida.
Em 2016 demos o AZAR do árbitro João Batista de Arruda anular um gol legítimo de Renato Chaves na decisão da Taça Guanabara contra o Vasco.
Em 2015 demos o AZAR da FERJ e o TJD excluírem Fred do campeonato, diminuindo consideravelmente as chances do Fluminense superar o Botafogo em uma semifinal equilibradíssima (sem o Fred) que acabou decidida nos pênaltis.
Se voltarmos mais no tempo a lista de AZARES do Fluminense em competições da FERJ é interminável. O Tricolor tem irrisórios quatro títulos nos últimos 34 campeonatos disputados. Um deles ninguém quis muito.
É muito azar. Como sou supersticioso, penso que o Fluminense já devia ter se livrado desse “encosto” chamado FERJ há muitos anos.