Os clássicos

Um tema que tem sido bastante discutido pelos tricolores ultimamente é o desempenho do clube em clássicos. É inegável que de alguns anos para cá o aproveitamento do Fluminense contra seus rivais estaduais tem apresentado um claro declínio. Neste post apresento um raio-x dos confrontos do Fluminense contra Flamengo, Vasco e Botafogo ao longo da história.

por decada

Flu x Botafogo

No clássico vovô, o mais antigo do futebol brasileiro, o Fluminense sempre teve vantagem. Desde o primeiro jogo em 1905. Essa vantagem teve seu ápice em 1957, quando o Fluminense, ao derrotar o Botafogo por 1×0 pelo primeiro turno do Campeonato Carioca, abriu 23 vitórias de diferença (61×38). Nos anos 60 o Botafogo reduziu bastante essa diferença, chegando a baixá-la para 11 em 1968 (70×59).

Desde então a vantagem tricolor oscilou entre o valor mínimo de 9 (em algumas ocasiões nos anos 70 e neste ano de 2017) e máximo de 17, em 2005. Atualmente o Fluminense tem 10 vitórias a mais que o Botafogo.

Recordes do clássico:

Maior invencibilidade do Fluminense: 14 jogos entre 1923 e 1929
Maior invencibilidade do Botafogo: 12 jogos entre 1960 e 1964
Maior sequência de vitórias do Fluminense: 5 vitórias entre 1928 e 1929
Maior sequência de vitórias do Botafogo: 4 vitórias entre 1961 e 1962
Maior goleada do Fluminense: 13.05.1906 – Fluminense 8×0 Botafogo
Maior goleada do Botafogo: 25.09.1910 – Botafogo 6×1 Fluminense
Maior artilheiro do Fluminense: Welfare, 18 gols

Flu x Flamengo

Todo mundo conhece a história do primeiro Fla-Flu disputado em 1912: um cata-cata tricolor vencendo heroicamente os jogadores que haviam sido campeões pelo próprio Fluminense no ano anterior. Foi uma zebra histórica. Tanto é que o Flamengo venceu os sete clássicos seguintes, e o Fluminense só voltou a vencer em 1916.

A partir daí o confronto apresentou grande equilíbrio e pouco a pouco o Fluminense foi tirando a diferença até conseguir passar o rival em 1938 (26 vitórias contra 25).

Até os anos 60 o confronto se manteve absolutamente equilibrado com Flu e Fla se alternando em vantagem, sempre pequena.

A última vez que o Fluminense esteve em vantagem foi em 1957. Ao vencer o rival por 2×1 no dia 8 de dezembro daquele ano o Tricolor chegou a 56 vitórias contra 55 do adversário. O Flamengo recuperou a vantagem já no ano seguinte e o Fluminense ainda conseguiu empatar o confronto por mais duas vezes. A primeira delas em 1959, e a segunda e última no dia 20 de agosto de 1961, com uma vitória por 4×3. Foi a última vez que os dois rivais estiveram igualados.

Entre 1961 e 1968 o Fluminense teve desempenho pífio no clássico e os rubro-negros pela primeira vez conseguiram abrir uma vantagem confortável com 14 vitórias a mais (62×76).

Desde então a vantagem rubro-negra oscilou entre um mínimo de apenas 4, em 1974, e um máximo de 22 vitórias de diferença, hoje. Nos últimos anos a vantagem de fato se acentuou drasticamente. Até esta década ela nunca havia passado de 15.

É de se notar, especialmente analisando os números por década, que o Fluminense foi mal neste clássico em três momentos específicos de sua história: 1912-1915 (sete derrotas seguidas), 1961-1968 (14 vitórias de vantagem para o Flamengo) e 2011-2017 (7 vitórias de vantagem para o Flamengo). Nos demais períodos há grande equilíbrio, até mesmo com pequena vantagem para o Fluminense.

Jogos em que houve mudança na liderança do confronto:

07.07.1912 – Fluminense 3 x 2 Flamengo – Campeonato Carioca (1×0)
03.08.1913 – Fluminense 3 x 6 Flamengo – Campeonato Carioca (1×2)
08.05.1938 – Fluminense 1 x 0 Flamengo – Torneio Municipal (26×25)
02.06.1940 – Fluminense 1 x 2 Flamengo – Campeonato Carioca (28×29)
19.03.1952 – Fluminense 3 x 2 Flamengo – Torneio Rio-SP (47×46)
20.01.1953 – Fluminense 1 x 3 Flamengo – Campeonato Carioca (47×48)
11.09.1955 – Fluminense 2 x 1 Flamengo – Campeonato Carioca (52×51)
09.12.1956 – Fluminense 0 x 1 Flamengo – Campeonato Carioca (53×54)
08.12.1957 – Fluminense 2 x 1 Flamengo – Campeonato Carioca (56×55)
27.09.1958 – Fluminense 1 x 2 Flamengo – Campeonato Carioca (56×57)

Recordes do clássico:

Maior invencibilidade do Fluminense: 12 jogos entre 1936 e 1938
Maior invencibilidade do Flamengo: 11 jogos entre 1912 e 1916
Maior sequência de vitórias do Fluminense: 4 vitórias entre 1951 e 1952
Maior sequência de vitórias do Flamengo: 7 vitórias entre 1912 e 1915
Maior goleada do Fluminense (por saldo de gols):
21.12.1919 – Fluminense 4×0 Flamengo
24.03.1943 – Fluminense 5×1 Flamengo
11.04.1945 – Fluminense 4×0 Flamengo
15.03.2003 – Fluminense 4×0 Flamengo
Maior goleada do Flamengo:
10.06.1945 – Flamengo 7×0 Fluminense
Maior artilheiro do Fluminense: Hércules, 14 gols

Flu x Vasco

Apesar do mito que existia de uma suposta ampla freguesia vascaína, alimentado por estatísticas incompletas que eram divulgadas até mais ou menos o final dos anos 80, o clássico Fluminense x Vasco sempre foi muito equilibrado. Deixou de ser nos anos 90.

O primeiro confronto entre os dois clubes aconteceu em 1923. Eram os tempos do chamado “amadorismo marrom”. Deixando os pormenores para um futuro post, na definição precisa do genial Mário Filho “o Fluminense se considerava um nobre de florete em punho diante de cangaceiros de trabuco”. Nesse cenário o Vasco ganhou todos os quatro primeiros confrontos.

Entre 1939 e 1940 o Fluminense obteve uma sequência de seis vitórias seguidas e passou a frente no confronto pela primeira vez (20×19).

A partir de então os dois times se alternaram na liderança do clássico. Em uma das vezes em que recuperou a supremacia do confronto, entre 1970 e 1985, o Fluminense alcançou sua maior vantagem: chegou a 9 vitórias de diferença ao vencer o Vasco por 3×0 no Campeonato Brasileiro de 1976.

Em 1992 o Vasco tomou a frente pela última vez e desde então vem abrindo vantagem cada vez maior, tendo hoje 25 vitórias a mais.

Jogos em que houve mudança na liderança do confronto:

11.03.1923 – Fluminense 2 x 3 Vasco – Amistoso (0x1)
25.08.1940 – Fluminense 4 x 2 Vasco – Camp. Carioca/Rio-SP (20×19)
05.10.1947 – Fluminense 3 x 5 Vasco – Campeonato Carioca (31×32)
19.09.1948 – Fluminense 2 x 0 Vasco – Campeonato Carioca (34×33)
07.08.1949 – Fluminense 3 x 5 Vasco – Campeonato Carioca (34×35)
20.09.1970 – Fluminense 2 x 0 Vasco – Campeonato Carioca (65×64)
17.03.1985 – Fluminense 1 x 2 Vasco – Campeonato Brasileiro (89×90)
12.04.1987 – Fluminense 3 x 0 Vasco – Campeonato Carioca (91×90)
29.11.1992 – Fluminense 0 x 1 Vasco – Campeonato Carioca (99×100)

Recordes do clássico:

Maior invencibilidade do Fluminense: 13 jogos entre 1969 e 1971
Maior invencibilidade do Vasco: 10 jogos entre 1991 e 1993, e entre 2012 e 2015
Maior sequência de vitórias do Fluminense: 6 vitórias entre 1939 e 1940
Maior sequência de vitórias do Vasco: 5 vitórias entre 1999 e 2000
Maior goleada do Fluminense (por saldo de gols):
22.11.1925 – Fluminense 5×1 Vasco
11.05.1941 – Fluminense 6×2 Vasco
24.06.1948 – Fluminense 4×0 Vasco
08.09.1974 – Fluminense 5×1 Vasco
Maior goleada do Vasco:
09.11.1930 – Vasco 6×0 Fluminense
Maior artilheiro do Fluminense: Waldo, 12 gols

Fla-Flu e a lógica, eternos rivais

Fluminense x Flamengo, segundo turno do Campeonato Carioca de 1982. O Flamengo já tinha conquistado o Brasileiro daquele ano, estava vivendo os melhores anos de sua história. O Fluminense fazia campanha fraquíssima. Apesar de já contar com Paulo Victor, Aldo e Jandir, que fariam história nos anos seguintes, e com o veterano Rubens Galaxe, de tantas conquistas pelo clube, o time era sofrível.

46 minutos do segundo tempo. 0x0 no placar. Escanteio para o Flamengo, Paulo Victor reclama com o árbitro Élson Pessoa, pede que ele encerre o jogo. Para evitar spoilers, o resto da história você vê no vídeo abaixo.

Esta partida completou 35 anos ontem. É mais uma entre as inúmeras que comprovam que a lógica neste clássico vale muito pouca coisa. Tudo pode acontecer. Sempre.

Índio, o mais antigo guerreiro tricolor, e o Municipal de 48

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“E Índio teve a sua maior partida no Fluminense. Foi obrigado a um esforço quase sobre humano, porque o Fluminense ficou no primeiro tempo com dez homens e no segundo com apenas nove jogadores contra onze campeões dos campeões sul-americanos. Também quando acabou o jogo Índio não se conteve mais. Deu para chorar como uma criança. O Fluminense obtivera uma das maiores vitórias de sua vida. Índio colaborara para ela, em nenhuma ocasião poderia mostrar melhor a sua dedicação” (O Globo Esportivo, No 511, 1948)

Índio era Aloysio Soares Braga. Nascido em 22 de Maio de 1920, faleceu ontem aos 97 anos de idade. Jogou no Fluminense nos anos de 1948 e 1949 e era, até ontem, o mais antigo jogador tricolor vivo. Na sua passagem pelas Laranjeiras foi titular absoluto na linha média do time que alcançou o terceiro lugar no Campeonato Carioca de 48 e segundo no de 49. Jogou ao lado de tricolores lendários como Castilho, Orlando Pingo de Ouro, Bigode, Píndaro, Didi, Pinheiro e Rodrigues. Mas contar sua história no Fluminense passa necessariamente pela conquista do Torneio Municipal de 1948. Os torcedores mais jovens podem imaginar que se trata de uma conquista de menor importância, mas não foi. Foi um título verdadeiramente sensacional pelas circunstâncias em que foi obtido.

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Índio (Esporte Ilustrado)

O Torneio Municipal era uma espécie de prévia do Campeonato Carioca. Os times que disputavam eram os mesmos. A diferença entre as duas competições é que o Carioca tinha dois turnos enquanto o Municipal apenas um.

Em 1948 o Vasco tinha seguramente o melhor time do Brasil, o famoso “Expresso da Vitória”. Os vascaínos haviam levantado o título carioca de 1947 de forma invicta e em 1948, reforçados do craque Ademir Menezes que buscaram de volta no próprio Fluminense, já haviam conquistado o Campeonato Sul-Americano de Clubes. Com este título importante assegurado o técnico Flávio Costa optou por dar um descanso aos seus jogadores titulares, que passaram a jogar apenas alguns amistosos e torneios enquanto a equipe de aspirantes, chamada de “Expressinho”, disputava o Torneio Municipal.

Mesmo sem sua força máxima o Vasco conseguiu se igualar ao Fluminense nas dez rodadas do torneio. Os dois times terminaram empatados na liderança com 16 pontos, um a frente do Flamengo. O Fluminense ainda teve a chance de assegurar o título na última rodada quando vencia o Botafogo por 1×0 até o último minuto, mas viu a taça escapar por entre os dedos com o gol de empate dos alvinegros.

Foi necessária então a realização de uma melhor de três entre Fluminense e Vasco para decidir o título. O primeiro jogo foi vencido pelo Fluminense com facilidade: 4×0. No segundo o Vasco venceu por 2×1, igualando a série decisiva. Apesar do Fluminense ter feito um placar mais elástico o regulamento da competição não previa desempate por saldo de gols. Em caso de empate no terceiro e último jogo haveria prorrogação de 30 minutos. Se a igualdade persistisse haveriam novas prorrogações de 15 minutos até que saísse um “golden goal”.

A batalha final foi disputada na noite de quarta-feira, 30 de Junho, no estádio de General Severiano. O Maracanã só seria inaugurado dois anos depois e os jogos da melhor de três teriam que ser disputados em campos neutros. O pequeno e simpático campo do Botafogo ficou lotado naquela noite com um público de 14.381 pagantes. Fora os penetras.

Quando os times entraram em campo, a grande surpresa: diferente do que havia feito ao longo de toda a competição o técnico Flávio Costa optou por levar à campo seu time titular. Os jogadores haviam se concentrado em sigilo absoluto e sua presença em campo causou verdadeiro espanto.

O cenário estava montado para uma partida sensacional. Dez dos 22 jogadores em campo estariam na copa do mundo dois anos depois: Barbosa, Ely do Amparo, Danilo Alvim, Ademir Menezes, Friaça, Chico e Maneca entre os vascaínos. Castilho, Bigode e Rodrigues entre os tricolores. No comando das equipes, dois técnicos históricos: Flávio Costa e Ondino Viera.

Não há como negar que ao escalar seus titulares o Vasco passava a ser o grande favorito ao título. Mas com a bola rolando essa superioridade não se confirmou. Mais aplicado e aguerrido em campo, o Fluminense partiu para cima e logo aos 8 minutos abriu a contagem com um gol que ficou marcado por muitos anos no imaginário da torcida tricolor. Rodrigues cruzou da ponta-esquerda e Orlando, o Pingo de Ouro, emendou uma bicicleta espetacular, vencendo o goleiro Barbosa.

O jogo foi muito disputado e até certo ponto violento. Ainda no primeiro tempo o centroavante tricolor Rubinho se contundiu. Como na época não eram permitidas substituições o atacante seguiu em campo, fazendo número. No início da segunda etapa foi a vez do zagueiro Haroldo se machucar. E o Fluminense se viu com dois jogadores inutilizados em campo. Praticamente dois a menos. Haroldo foi deslocado para o ataque e Índio assumiu seu posto na zaga.

Com esse cenário amplamente desfavorável o Fluminense resistiu heroicamente a todas as investidas vascaínas, sustentou o placar de 1×0, e garantiu um dos títulos mais dramáticos de sua história. Uma conquista com a marca de um time de guerreiros.

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Trechos da reportagem do jogo no Jornal dos Sports

Índio havia se casado naquela tarde e seguido diretamente da igreja para General Severiano. Após parar o ataque vascaíno e extravasar na saída de campo sua emoção pela heroica conquista, pôde enfim seguir para sua festa de casamento acompanhado de todos os jogadores campeões. Uma comemoração dupla, e merecida.

Descanse em paz, Índio.

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A Noite

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Jornal dos Sports

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O Globo

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Folha Carioca

Retrospecto histórico do Fluminense na Copa do Brasil

Essa semana se encerrou a 29ª edição da Copa do Brasil, competição que é disputada desde 1989. O Fluminense participou de 21 edições totalizando 135 jogos, 69 vitórias, 36 empates e 30 derrotas. O Tricolor marcou 243 gols e sofreu 154.

RELAÇÃO COMPLETA DE JOGOS:
Data                       Jogo Estádio Gols
07/07/1992 Fluminense 4 x 2 Picos-PI Alberto Silva (Teresina) Ézio (2), Wagner (2)
28/07/1992 Fluminense 2 x 1 Picos-PI Laranjeiras (Rio de Janeiro) Moresche, Sandro
04/09/1992 Fluminense 1 x 0 Sergipe-SE Lourival Batista (Aracaju) Julinho
16/10/1992 Fluminense 2 x 2 Sergipe-SE Laranjeiras (Rio de Janeiro) Wagner, Julinho
30/10/1992 Fluminense 2 x 1 Criciúma-SC Laranjeiras (Rio de Janeiro) Zé Teodoro, Paulo Alexandre
13/11/1992 Fluminense 3 x 0 Criciúma-SC Heriberto Hülse (Criciúma) Ézio, Lira, Wagner
24/11/1992 Fluminense 2 x 1 Sport-PE Laranjeiras (Rio de Janeiro) Julinho, Zé Teodoro
01/12/1992 Fluminense 1 x 1 Sport-PE Ilha do Retiro (Recife) Sandro
10/12/1992 Fluminense 2 x 1 Internacional-RS Laranjeiras (Rio de Janeiro) Wagner, Ézio
13/12/1992 Fluminense 0 x 1 Internacional-RS Beira Rio (Porto Alegre)
18/02/1994 Fluminense 2 x 2 Linhares-ES Laranjeiras (Rio de Janeiro) Mário Tilico, Wallace
18/03/1994 Fluminense 1 x 1 Linhares-ES Engenheiro Araripe (Cariacica) Luiz Henrique
07/03/1996 Fluminense 4 x 1 CRB-AL Rei Pelé (Maceió) Rogério (2), Renato Gaúcho, Leonardo
03/04/1996 Fluminense 2 x 1 Criciúma-SC Laranjeiras (Rio de Janeiro) Renato Gaúcho, Vampeta
10/04/1996 Fluminense 1 x 3 Criciúma-SC Heriberto Hülse (Criciúma) Rogerinho
25/02/1997 Fluminense 4 x 0 Santa Cruz-PB Almeidão (João Pessoa) Jorge Luís, Roni, Marcelo, Lima
12/03/1997 Fluminense 0 x 1 Ceará-CE Castelão (Fortaleza)
20/03/1997 Fluminense 0 x 0 Ceará-CE Engenheiro Araripe (Cariacica)
20/01/1998 Fluminense 4 x 1 ABC-RN Machadão (Natal) Magno Alves (3), Gil Baiano
19/02/1998 Fluminense 0 x 2 Paraná Clube-PR Maracanã (Rio de Janeiro)
03/03/1999 Fluminense 1 x 0 Lagartense-SE Paulo Barreto (Lagarto) Marcelinho Paulista
10/03/1999 Fluminense 2 x 1 Lagartense-SE Maracanã (Rio de Janeiro) Roni, Magno Alves
17/03/1999 Fluminense 3 x 1 Juventude-RS Maracanã (Rio de Janeiro) Roni, Flávio, Túlio
07/04/1999 Fluminense 0 x 6 Juventude-RS Alfredo Jaconi (Caxias do Sul)
09/03/2000 Fluminense 1 x 1 URT-MG Zama Maciel (Patos de Minas) Agnaldo
15/03/2000 Fluminense 2 x 0 URT-MG Maracanã (Rio de Janeiro) Agnaldo, Roger
05/04/2000 Fluminense 1 x 1 Santa Cruz-PE Arruda (Recife) Gol contra
27/04/2000 Fluminense 3 x 1 Santa Cruz-PE Maracanã (Rio de Janeiro) Agnaldo (2), Roger
04/05/2000 Fluminense 1 x 1 Maranhão-MA Castelão (São Luís) Agnaldo
09/05/2000 Fluminense 6 x 0 Maranhão-MA Maracanã (Rio de Janeiro) Roger (2), Luiz Gustavo, Paulo César, Yan, Marco Brito
24/05/2000 Fluminense 1 x 1 Vasco-RJ Maracanã (Rio de Janeiro) Régis
31/05/2000 Fluminense 2 x 2 Vasco-RJ São Januário (Rio de Janeiro) Magno Alves, Agnaldo
15/06/2000 Fluminense 3 x 3 Atlético-MG Maracanã (Rio de Janeiro) Magno Alves, Roger, Marco Brito
21/06/2000 Fluminense 2 x 2 Atlético-MG Mineirão (Belo Horizonte) Magno Alves, Júlio César
15/03/2001 Fluminense 1 x 0 Cachoeiro-ES Engenheiro Araripe (Cariacica) Marco Brito
21/03/2001 Fluminense 2 x 1 Cachoeiro-ES Maracanã (Rio de Janeiro) Agnaldo (2)
11/04/2001 Fluminense 1 x 4 Juventude-MT José Fragelli (Cuiabá) Paulo César
18/04/2001 Fluminense 3 x 0 Juventude-MT Maracanã (Rio de Janeiro) Ramon, Agnaldo, Magno Alves
02/05/2001 Fluminense 0 x 1 Grêmio-RS Olímpico (Porto Alegre)
09/05/2001 Fluminense 0 x 0 Grêmio-RS Maracanã (Rio de Janeiro)
06/02/2002 Fluminense 1 x 2 Sampaio Correa-MA Castelão (São Luís) Marco Brito
20/02/2002 Fluminense 5 x 1 Sampaio Correa-MA Maracanã (Rio de Janeiro) Magno Alves (2), Fernando Diniz, Júlio César, Caio
27/02/2002 Fluminense 2 x 1 Paysandu-PA Leônidas Sodré de Castro (Belém) Régis, Paulo Isidoro
13/03/2002 Fluminense 2 x 0 Paysandu-PA Maracanã (Rio de Janeiro) Fernando Diniz, Roger
27/03/2002 Fluminense 1 x 1 Juventude-RS Alfredo Jaconi (Caxias do Sul) Magno Alves
03/04/2002 Fluminense 2 x 1 Juventude-RS Maracanã (Rio de Janeiro) Magno Alves, Júlio César
10/04/2002 Fluminense 0 x 1 Brasiliense-DF Elmo Serejo (Taguatinga)
17/04/2002 Fluminense 0 x 1 Brasiliense-DF Maracanã (Rio de Janeiro)
06/02/2003 Fluminense 1 x 1 Fluminense-BA Jóia da Princesa (Feira de Santana) Carlos Alberto
12/03/2003 Fluminense 4 x 0 Fluminense-BA Maracanã (Rio de Janeiro) Jadílson (2), Zada, Marcelo
26/03/2003 Fluminense 2 x 1 Flamengo-PI Alberto Silva (Teresina) Ademílson, Alex Oliveira
02/04/2003 Fluminense 2 x 0 Flamengo-PI Maracanã (Rio de Janeiro) Marcelo, Eduardo
24/04/2003 Fluminense 0 x 1 Sport-PE Maracanã (Rio de Janeiro)
01/05/2003 Fluminense 1 x 2 Sport-PE Ilha do Retiro (Recife) Fábio Bala
04/02/2004 Fluminense 3 x 1 Caxias-SC Ernesto Schlemm Sobrinho (Joinville) Ramon, Antônio Carlos, Leonardo Moura
17/03/2004 Fluminense 2 x 2 Juventude-RS Alfredo Jaconi (Caxias do Sul) Marcelo (2)
24/03/2004 Fluminense 2 x 1 Juventude-RS Maracanã (Rio de Janeiro) Antônio Carlos, Alan
14/04/2004 Fluminense 2 x 2 Grêmio-RS Maracanã (Rio de Janeiro) Romário (2)
05/05/2004 Fluminense 1 x 4 Grêmio-RS Olímpico (Porto Alegre) Rodolfo
16/02/2005 Fluminense 0 x 1 Campinense-PB Ernâni Sátyro (Campina Grande)
02/03/2005 Fluminense 3 x 1 Campinense-PB Maracanã (Rio de Janeiro) Tuta (2), Felipe
09/03/2005 Fluminense 2 x 1 Esportivo-RS Montanha dos Vinhedos (Bento Gonçalves) Gabriel (2)
17/03/2005 Fluminense 1 x 0 Esportivo-RS Maracanã (Rio de Janeiro) Marquinho
20/04/2005 Fluminense 3 x 0 Grêmio-RS Maracanã (Rio de Janeiro) Tuta (2), Juninho
04/05/2005 Fluminense 1 x 0 Grêmio-RS Olímpico (Porto Alegre) Tuta
12/05/2005 Fluminense 1 x 0 Treze-PB São Januário (Rio de Janeiro) Leandro
18/05/2005 Fluminense 0 x 1 Treze-PB (9×8) Ernâni Sátyro (Campina Grande)
25/05/2005 Fluminense 2 x 2 Ceará-CE São Januário (Rio de Janeiro) Léo Guerra, Gabriel
01/06/2005 Fluminense 4 x 1 Ceará-CE Castelão (Fortaleza) Tuta (2), Diego Souza, Rodrigo Tiuí
15/06/2005 Fluminense 0 x 2 Paulista-SP Jayme Cintra (Jundiaí)
22/06/2005 Fluminense 0 x 0 Paulista-SP São Januário (Rio de Janeiro)
22/02/2006 Fluminense 3 x 2 Operário-MT José Fragelli (Cuiabá) Cláudio Pitbull, Lenny, Bruno
09/03/2006 Fluminense 3 x 1 Operário-MT Maracanã (Rio de Janeiro) Tuta, Cláudio Pitbull, Evando
22/03/2006 Fluminense 5 x 3 CENE-MS Pedro Pedrossian (Campo Grande) Marcão (2), Tuta, Romeu, Petkovic
12/04/2006 Fluminense 2 x 2 Vila Nova-GO Serra Dourada (Goiânia) Marcão, Marcelo
19/04/2006 Fluminense 4 x 0 Vila Nova-GO Maracanã (Rio de Janeiro) Tuta (2), Lenny (2)
26/04/2006 Fluminense 3 x 2 Cruzeiro-MG Mineirão (Belo Horizonte) Lenny (2), Petkovic
03/05/2006 Fluminense 1 x 0 Cruzeiro-MG Maracanã (Rio de Janeiro) Marcelo
11/05/2006 Fluminense 0 x 1 Vasco-RJ Maracanã (Rio de Janeiro)
17/05/2006 Fluminense 1 x 1 Vasco-RJ Maracanã (Rio de Janeiro) Petkovic
14/02/2007 Fluminense 2 x 1 ADESG-AC Arena da Floresta (Rio Branco) Soares, Alex Dias
28/02/2007 Fluminense 6 x 0 ADESG-AC Maracanã (Rio de Janeiro) Thiago Neves (2), Alex Dias, Cícero, Thiago Silva, Lenny
14/03/2007 Fluminense 2 x 1 América-RN Frasqueirão (Natal) Soares, Alex Dias
04/04/2007 Fluminense 0 x 1 América-RN Maracanã (Rio de Janeiro)
19/04/2007 Fluminense 1 x 1 Bahia-BA Maracanã (Rio de Janeiro) Carlos Alberto
25/04/2007 Fluminense 2 x 2 Bahia-BA Fonte Nova (Salvador) Cícero, Soares
02/05/2007 Fluminense 1 x 1 Atlético-PR Maracanã (Rio de Janeiro) Thiago Silva
09/05/2007 Fluminense 1 x 0 Atlético-PR Arena da Baixada (Curitiba) Adriano Magrão
16/05/2007 Fluminense 4 x 2 Brasiliense-DF Maracanã (Rio de Janeiro) Thiago Silva, Alex Dias, Adriano Magrão, Carlos Alberto
23/05/2007 Fluminense 1 x 1 Brasiliense-DF Elmo Serejo (Taguatinga) Adriano Magrão
30/05/2007 Fluminense 1 x 1 Figueirense-SC Maracanã (Rio de Janeiro) Adriano Magrão
06/06/2007 Fluminense 1 x 0 Figueirense-SC Orlando Scarpelli (Florianópolis) Roger
18/02/2009 Fluminense 1 x 0 Nacional-PB Almeidão (João Pessoa) Éverton Santos
05/03/2009 Fluminense 3 x 0 Nacional-PB Maracanã (Rio de Janeiro) Thiago Neves, Éverton Santos, Tartá
16/04/2009 Fluminense 1 x 2 Águia de Marabá-PA Mangueirão (Belém) Fred
22/04/2009 Fluminense 3 x 0 Águia de Marabá-PA Maracanã (Rio de Janeiro) Maicon (2), Eduardo Ratinho
30/04/2009 Fluminense 2 x 2 Goiás-GO Serra Dourada (Goiânia) Luiz Alberto, Fred
07/05/2009 Fluminense 1 x 1 Goiás-GO Maracanã (Rio de Janeiro) Thiago Neves
13/05/2009 Fluminense 0 x 1 Corinthians-SP Pacaembu (São Paulo)
20/05/2009 Fluminense 2 x 2 Corinthians-SP Maracanã (Rio de Janeiro) Alan, Thiago Neves
24/02/2010 Fluminense 1 x 1 Confiança-SE Lourival Batista (Aracaju) Gum
10/03/2010 Fluminense 2 x 0 Confiança-SE Maracanã (Rio de Janeiro) Fred (2)
17/03/2010 Fluminense 2 x 0 Uberaba-MG Engenheiro João Guido (Uberaba) Alan (2)
14/04/2010 Fluminense 1 x 0 Portuguesa-SP Canindé (São Paulo) Fred
22/04/2010 Fluminense 3 x 2 Portuguesa-SP Maracanã (Rio de Janeiro) Fred (3)
29/04/2010 Fluminense 2 x 3 Grêmio-RS Maracanã (Rio de Janeiro) André Lima, Equi González
05/05/2010 Fluminense 0 x 2 Grêmio-RS Olímpico (Porto Alegre)
21/08/2013 Fluminense 1 x 0 Goiás-GO Maracanã (Rio de Janeiro) Samuel
28/08/2013 Fluminense 0 x 2 Goiás-GO Serra Dourada (Goiânia)
20/03/2014 Fluminense 1 x 3 Horizonte-CE Domingão (Horizonte) Conca
10/04/2014 Fluminense 5 x 0 Horizonte-CE Maracanã (Rio de Janeiro) Conca, Gum, Rafael Sóbis, Wagner, Fred
23/04/2014 Fluminense 3 x 0 Tupi-MG Estádio Municipal (Juiz de Fora) Fred (2), Walter
06/08/2014 Fluminense 3 x 0 América-RN Arena das Dunas (Natal) Cícero (2), Conca
13/08/2014 Fluminense 2 x 5 América-RN Maracanã (Rio de Janeiro) Fred, Cícero
20/08/2015 Fluminense 2 x 1 Paysandu-PA Maracanã (Rio de Janeiro) Magno Alves, Renato
26/08/2015 Fluminense 2 x 1 Paysandu-PA Mangueirão (Belém) Cícero, Marcos Júnior
23/09/2015 Fluminense 0 x 0 Grêmio-RS Maracanã (Rio de Janeiro)
30/09/2015 Fluminense 1 x 1 Grêmio-RS Arena do Grêmio (Porto Alegre) Fred
21/10/2015 Fluminense 2 x 1 Palmeiras-SP Maracanã (Rio de Janeiro) Marcos Júnior, Gum
28/10/2015 Fluminense 1 x 2 Palmeiras-SP (1×4) Allianz Parque (São Paulo) Fred
06/04/2016 Fluminense 3 x 0 Tombense-MG Soares de Azevedo (Muriaé) Marcos Júnior (2), Gérson
04/05/2016 Fluminense 3 x 3 Ferroviária-SP Arena Fonte Luminosa (Araraquara) Fred (2), Magno Alves
12/05/2016 Fluminense 3 x 0 Ferroviária-SP Raulino de Oliveira (Volta Redonda) Gustavo Scarpa (2), Fred
06/07/2016 Fluminense 1 x 1 Ypiranga-RS Raulino de Oliveira (Volta Redonda) Magno Alves
27/07/2016 Fluminense 2 x 0 Ypiranga-RS Colosso da Lagoa (Erechim) Cícero, Magno Alves
31/08/2016 Fluminense 1 x 1 Corinthians-SP Édson Passos (Mesquita) Marquinho
21/09/2016 Fluminense 0 x 1 Corinthians-SP Arena Corinthians (São Paulo)
15/02/2017 Fluminense 5 x 2 Globo-RN Manoel Barretto (Ceará-Mirim) Henrique Dourado (2), Lucas, Wellington Silva, Gustavo Scarpa
01/03/2017 Fluminense 3 x 1 Sinop-MT Massami Uriu (Sinop) Sornoza (2), Henrique Dourado
09/03/2017 Fluminense 1 x 1 Criciúma-SC Heriberto Hülse (Criciúma) Wellington Silva
15/03/2017 Fluminense 3 x 2 Criciúma-SC Édson Passos (Mesquita) Douglas, Henrique Dourado, Sornoza
13/04/2017 Fluminense 1 x 2 Goiás-GO Serra Dourada (Goiânia) Marcos Júnior
19/04/2017 Fluminense 3 x 0 Goiás-GO Maracanã (Rio de Janeiro) Henrique, Nogueira, Pedro
17/05/2017 Fluminense 1 x 3 Grêmio-RS Arena do Grêmio (Porto Alegre) Renato Chaves
31/05/2017 Fluminense 0 x 2 Grêmio-RS Maracanã (Rio de Janeiro)

Foram 73 confrontos no total com 53 classificações e 20 eliminações.

Duas vezes a vaga foi decidida por pênaltis: uma vitória contra o Treze de Campina Grande em 2005 e uma derrota para o Palmeiras em 2015.

Dez vezes o confronto foi decidido pelo número de gols fora de casa. Seis em favor do Fluminense (Vasco/2000, Juventude-MT/2001, América-RN/2007, Bahia/2007, Goiás/2009 e Grêmio/2015), quatro em favor do adversário (Internacional/1992, Linhares/1994, Atlético-MG/2000 e América-RN/2014).

O time que o Fluminense mais enfrentou foi o Grêmio com seis confrontos (duas classificações do Fluminense e quatro eliminações). Em seguida aparecem Criciúma, Goiás e Juventude. Cada um dos três foi o adversário do Fluminense em três edições da competição e o saldo contra cada um deles é idêntico: duas classificações do Fluminense e uma eliminação.

records

A Temporada de Stock-Cars nas Laranjeiras

Dentre as insólitas atrações que já passaram pelo solo sagrado do estádio das Laranjeiras (que incluem um circo nos anos 80 e partidas de autobol nos anos 70) sem dúvida se destaca a temporada de “stock-cars” realizada em 1956. Não se tratava de uma corrida como o nome pode sugerir, mas de um espetáculo descrito como “vale tudo automobilístico”, com acrobacias, batidas, derrapagens, capotagens, travessia em túnel de fogo e outras atrações inusitadas.

Globo

O jornal O Globo noticia a temporada de Stock-Cars, o vale-tudo no automobilismo

O show era estrelado por uma trupe de pilotos e dublês internacionais, encabeçada pelos franceses Gil Delamare e Colette Duval. Entre os meses de março e abril de 1956 foram realizadas uma série de apresentações no campo do Fluminense. Até o campeão mundial de boxe Rocky Marciano, em visita ao Brasil, compareceu a uma delas.

Globo2

Anúncio da segunda apresentação de stock-cars publicado nos jornais do Rio

malucos

Notícia bem humorada anuncia os “malucos do volante”

Diario da Noite

Flagrante da apresentação de stock-cars do jornal Diário da Noite

Curioso que nessa época o estádio das Laranjeiras era utilizado regularmente para jogos, diferente do que ocorria nos tempos do circo ou do autobol. Não creio que se tratasse de desleixo da direção do clube com o estado do gramado. É que naquela época ninguém se importava mesmo. Eram os anos 50, o auge do futebol raiz. Tempo dos contratos em branco, das infiltrações no joelho, das pernas quebradas por vingança. Tempos em que não eram permitidas substituições e os jogadores quando se contundiam, a não ser que não pudessem ficar de pé, se arrastavam em campo até o apito final. Não havia a menor preocupação com “frescuras” como as condições dos gramados, que eram todos ruins. O estádio das Laranjeiras tinha até uma pista de atletismo cujas curvas passavam por dentro do campo.

Alguns registros fotográficos das apresentações de stock-cars em 1956:

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

Última Hora, Missão 0248-56

A título de curiosidade, Colette Duval (que além de participar das apresentações de stock-cars era modelo, atriz, deputada e campeã de paraquedismo) aproveitando sua passagem pelo Rio de Janeiro realizou no dia 23 de Maio de 1956 um salto de mais de 10.000 metros de altura sobre as águas de Copacabana, quebrando o recorde mundial. O feito foi registrado no filme inglês abaixo.

A deserção de Romeu e a pacificação do futebol carioca

O extraordinário Romeu Pellicciari foi um dos grandes ídolos da história do Fluminense. Um dos maiores craques (se não o maior) de um dos maiores times (se não o maior) que o clube já teve, o esquadrão que levantou cinco títulos cariocas entre 1936 e 1941. O que pouca gente sabe é que um dia ele abandonou o Fluminense e foi para o Botafogo. Ele e Lara, outro bom jogador trazido do futebol paulista para formar aquele esquadrão.

Vivíamos os tempos da cisão no futebol carioca, que durou de 1933 a 1937. Uma verdadeira guerra fria. De um lado Fluminense, Flamengo e América, filiados à Liga Carioca de Football, e esta à Federação Brasileira de Football, entidades criadas por ocasião do surgimento do profissionalismo em 1933. Do outro Botafogo, Vasco e Bangu, filiados à Federação Metropolitana de Desportos, esta à Confederação Brasileira de Desportos, que por sua vez era filiada à FIFA.

A briga era pesada e algumas vezes suja. Certa vez, em plena disputa do Campeonato Carioca de 1936, quando o Fluminense brigava pelo título que quebraria seu jejum de 12 anos, o maior da história do clube, a CBD investiu pesadamente para tirar de Laranjeiras os principais jogadores do time: Romeu, Hércules e o goleiro Batatais. O Campeonato Sul-Americano de Seleções estava se aproximando e cabia à CBD, entidade oficial reconhecida pela FIFA, a organização da Seleção Brasileira. Os jogadores do Fluminense, filiados à outra Liga, não poderiam ser convocados. A CBD começou então a assediá-los com a promessa de jogar o Sul-Americano e depois fazer um bom contrato com Botafogo ou Vasco. A proposta era tentadora mas os jogadores resistiram. Batatais declarou publicamente que só sairia do Fluminense no dia em que o clube não mais o quisesse. Hércules também se pronunciou: “abandonar o meu clube seria loucura, eu já considero aquilo o meu segundo lar”. E após algumas semanas de suspense o Fluminense encerrou o assunto renovando antecipadamente os contratos que se encerrariam no fim do ano. Desta forma o time pôde jogar a reta final do campeonato com tranquilidade, pensando apenas em conquistar o título, o que acabou acontecendo em uma histórica melhor de três contra o Flamengo de Leônidas da Silva e Domingos da Guia.

Esse tipo de coisa era comum na época. Em 1934 o Palestra Itália escondeu seus principais jogadores (entre eles Romeu e Lara que no ano seguinte viriam para as Laranjeiras) em uma fazenda no interior de São Paulo para que a CBD, em processo de montagem da Seleção para a Copa do Mundo daquele ano, não pudesse assediá-los. Em meio a esse caos, não por acaso, em 1934 o Brasil teve sua pior participação em copas.

A última e mais pesada investida contra os craques tricolores aconteceu em 1937. Para o mês de julho daquele ano a Liga Carioca preparava uma grande atração: a vinda de um combinado argentino ao Rio para enfrentar seus três principais filiados. Era um evento muito aguardado pois os clubes argentinos da AFA só podiam jogar contra os clubes brasileiros da CBD. O combinado argentino que recebeu o nome de Combinado Becar-Varella seria portanto uma oportunidade única para Fluminense, Flamengo e América jogarem uma partida internacional, algo que o público aguardava ansiosamente.

CBD e AFA tentaram impedir esse empreendimento de todas as formas. O consulado brasileiro em Buenos Aires chegou a negar-se a dar os vistos aos jogadores argentinos, situação que atrasou o embarque da delegação portenha e só foi revertida por ordem direta do Ministério das Relações Exteriores, após entendimentos com dirigentes da Liga Carioca. Mal sucedida em seu intuito de evitar a vinda dos argentinos, o objetivo da CBD passou a ser esvaziar os jogos que estes realizariam. A estratégia foi a de sempre: aliciar jogadores do Fluminense para levá-los para o Botafogo, seu grande aliado. Romeu, Lara e Machado foram os alvos desta vez. A desfaçatez era tanta que as propostas aos jogadores eram feitas no escritório do próprio presidente da CBD, Luiz Aranha. Lá os jogadores recebiam a oferta de luvas e um alto salário com uma única imposição: não enfrentar os argentinos.

JS - Romeu e Lara treinaram

Romeu e Lara

Romeu e Lara

Machado, vendo que se tratava de uma manobra desleal com o Fluminense, abandonou as negociações, mas Romeu e Lara caíram no “canto da sereia”. Entraram em litígio com o Fluminense para obter seu passe e foram para o Botafogo. Romeu chegou a treinar no clube alvinegro mas poucos dias depois sumiu de General Severiano. Revoltados com o desaparecimento do craque alguns jogadores do Botafogo, entre eles os irmãos Aymoré e Zezé Moreira, e o ponta Álvaro, partiram para uma caçada à Romeu, protagonizando acontecimentos bizarros e até certo ponto engraçados. Procuraram o jogador em sua residência e na tinturaria da qual era sócio. Não o encontrando, ameaçaram sua esposa e fizeram vigília na porta do estabelecimento. Foi necessário que a esposa de Romeu chamasse a polícia para desbaratar a tocaia. Mas Romeu só reapareceria mesmo nas Laranjeiras, para surpresa geral. Mostrando-se arrependido, o craque acabou perdoado pelos cartolas tricolores. Amparado pelos contratos em vigor o Fluminense preparava-se para ir até o fim na luta pelos seus direitos, mas não foi necessário.

Globo1

Houve também aliciamento aos jogadores argentinos quando chegaram ao Rio. O goleiro Grippa por exemplo recebeu a mesma proposta que os tricolores: um contrato vantajoso desde que não atuasse nos jogos promovidos pela Liga Carioca. Mas recusou. No fim das contas a excursão dos argentinos foi um sucesso. O Fluminense venceu o combinado por 3×0 diante de grande público no estádio das Laranjeiras. Romeu e Lara, envolvidos na confusão, não atuaram, mas Romeu acabou ficando no Fluminense. Lara deu menos sorte: foi mesmo para o Botafogo.

Becar

Fluminense 3 x 0 Combinado Becar-Varella (11/7/1937)

JS-galinha morta

Antes do jogo Fluminense x Combinado, tricolores e adeptos da Liga Carioca fazem chacota com a CBD: “galinha morta”

O que aconteceu depois:

Quando tudo indicava que a cisão no futebol brasileiro seguiria acirrada por mais um longo período, veio o movimento de pacificação. É bem provável que o incidente envolvendo Romeu, Lara, Botafogo, Fluminense e CBD tenha sido a gota d’água. A verdade é que nem mesmo o Vasco apoiava mais as manobras da CBD. Com novo presidente, Pedro Novaes, e novas idéias, o clube de São Januário buscava outros rumos. E partiu exatamente do Vasco e do América, este na figura de seu presidente Pedro Magalhães Corrêa, a iniciativa da paz. O movimento de pacificação se alastrou de forma impressionante. De todos os lados, de todos os clubes, da imprensa e de desportistas em geral, o apoio foi quase instantâneo. Havia um verdadeiro clamor pelo fim da cisão.

Quando Fluminense e Flamengo entraram em campo para se enfrentar pelo Torneio Aberto da Liga Carioca no dia 27 de julho de 1937, apenas 16 dias após o Fluminense vencer os argentinos, a paz já estava selada. O jogo acabou se tornando um evento festivo, uma simbólica despedida da Liga Carioca, uma vez que o Torneio Aberto sequer seria concluído. Foi uma festa de congraçamento de todas as torcidas, que lotaram o estádio das Laranjeiras para celebrar a pacificação. Com grande atuação o Fluminense venceu por 4×1. Dois dias depois, a 29 de julho, era fundada em solenidade realizada na Associação dos Empregados do Comércio, na Av. Rio Branco, a Liga de Football do Rio de Janeiro, nova entidade responsável pelo futebol carioca unificado. E no dia 31, Vasco e América se enfrentavam naquele que seria o primeiro jogo da nova Liga, sendo eternizado como o Clássico da Paz.

Após o perdão, Romeu, que já havia conquistado pelo Fluminense o Torneio Aberto da Liga Carioca em 1935 e o Campeonato Carioca em 1936, ganhou os cariocas de 37, 38, 40 e 41, o Torneio Municipal de 1938 e o Campeonato Extra de 1941. Em 1942, após longo impasse na renovação de seu contrato, acertou seu retorno ao Palestra Itália.

Zezé Moreira, o justiceiro caçador de craques desaparecidos, anos mais tarde virou treinador. Dirigiu o Fluminense em três oportunidades conquistando os campeonatos cariocas de 1951 e 1959, a Copa Rio (Mundial) de 1952 e o Torneio Rio-São Paulo de 1960. Como treinador do Fluminense chegou à Seleção Brasileira e à Copa do Mundo de 1954. É até hoje o técnico com maior número de jogos no comando do Tricolor: 474.

Ninguém é perfeito. Nem os ídolos.

A primeira excursão do Fluminense à Europa

Curiosamente o Fluminense, clube que tem o pioneirismo em seu DNA, demorou a jogar no continente europeu. O primeiro clube brasileiro a excursionar pelo velho mundo foi o Paulistano, do craque Arthur Friedenreich, em 1925. Em segundo o Vasco, em 1931. Com relação à excursão vascaína, é sempre bom lembrar, o Fluminense gentilmente cedeu um de seus melhores jogadores, o center-half Fernando Giudicelli, titular da Seleção Brasileira na Copa de 1930, para reforçar a equipe de São Januário. E o jogador jamais retornou, sendo contratado pelo Torino.

Os demais clubes brasileiros só atravessariam o Atlântico mais ou menos à partir da virada dos anos 40 para os anos 50. O Fluminense, em 1955, exatamente 30 anos depois do Paulistano. O time não atravessava um grande momento. No início daquele ano, Zezé Moreira, técnico do Fluminense e da Seleção Brasileira, trocara o Tricolor pelo Botafogo. Gradim, auxiliar de Zezé, comandou a equipe interinamente por alguns meses para depois Russo, ídolo tricolor nos anos 30 e 40, assumir a função em definitivo. Para um time que tinha sido treinado pelo mesmo técnico por quase quatro anos e estava mais do que habituado ao seu sistema de jogo as mudanças não eram tão fáceis. E o resultado foi uma fraca campanha no Torneio Rio-São Paulo daquele ano. Mas nessa altura as excursões à Europa tinham se tornado uma verdadeira febre e já estava mais do que na hora do Fluminense se colocar à prova em uma dessas “aventuras”.

A delegação tricolor embarcou na madrugada do dia 18 de Maio de 1955 rumo a Istambul na Turquia assim constituída:

Chefe da delegação: Aloisio Affonseca
Diretor Administrativo: Gaspar Labarthe da Silva
Médico: Newton Paes Barreto
Técnico: Adolpho Milman (Russo)
Massagista/Roupeiro: João de Deus Andrade
Jogadores: Castilho, Veludo, Pinheiro, Duque, Píndaro, Laffayette, Bigode, Bassú, Clóvis, Edson, Victor, Didi, Róbson, João Carlos, Telê, Miguel, Escurinho, Quincas e Waldo

Embarque2

Embarque da delegação tricolor. Em pé: João de Deus (massagista), Escurinho, Telê, Bassú, Waldo, Píndaro, Russo (técnico), Aloisio Affonseca (chefe da delegação), Gaspar Labarthe (diretor), Duque, Castilho, Paes Barreto (médico) e Quincas. Agachados: João Carlos, Laffayette, Pinheiro, Bigode, Miguel, Róbson e Edson. (Esporte Ilustrado)

Após uma viagem cansativa, com escalas em Recife, Dakar e Lisboa, e ainda uma conexão em Roma, a delegação chegou a Istambul onde faria cinco jogos no Estádio Mithatpasa (demolido recentemente para a construção de uma dessas modernas arenas). A estreia aconteceu no dia 21 de Maio, contra o Adalet, e o Fluminense venceu sem maiores dificuldades pelo placar de 4×1, causando boa impressão na torcida turca. Os gols foram marcados por Escurinho, Telê, Didi e Róbson, sendo Didi o destaque da partida.

Adalet

Fluminense 4 x 1 Adalet. Primeiro jogo do Fluminense na Europa (Milliyet Gazete)

Já no dia seguinte o Tricolor voltava à campo, desta vez contra o Besiktas. O desgaste da longa viagem somado à partida de estreia no dia anterior acabou pesando. O Besiktas abriu uma vantagem de 2×1 no primeiro tempo e se fechou no segundo. Apesar do cansaço o Fluminense passou a dominar completamente o jogo, que se tornou um autêntico ataque contra defesa. Teve grandes oportunidades mas não foi feliz nas finalizações. O goleiro turco Bulent foi a grande figura em campo e garantiu o resultado.

Fato curioso relatado pelo chefe da delegação tricolor sobre este jogo é que o futebol praticado pelo Fluminense agradou de tal forma o público presente no estádio que este passou a torcer pelo empate, inclusive se manifestando para que o árbitro desse mais tempo de desconto. Ao final do jogo os dois times foram muito aplaudidos.

Três dias depois o Fluminense enfrentou o Fenerbahce. Com o devido descanso o time pôde botar em prática seu melhor padrão de jogo e venceu por 1×0, gol de Róbson de peixinho, completando um cruzamento de Telê. O placar magro não expressou toda a superioridade do Fluminense que mandou três bolas na trave adversária.

Fenerbahce-Robson

Fluminense 1 x 0 Fenerbahce. Róbson, caído, marca de cabeça o gol da vitória (Dünya)

Na sequência o Fluminense descansaria mais três dias para então fazer novamente dois jogos seguidos no fim de semana: sábado contra o Galatasaray e domingo contra um selecionado da Turquia. Píndaro, Pinheiro e Clóvis, contundidos, desfalcariam o Tricolor nestas partidas. Mesmo assim o Fluminense conquistou mais duas vitórias. 2×0 sobre o Galatasaray com uma atuação espetacular de Didi, que a esta altura já havia conquistado plenamente o público local e foi muito ovacionado ao ser substituído. E 4×1 sobre a Seleção, naquele que curiosamente foi o jogo mais fácil do Fluminense na Turquia. Explica-se: o técnico da seleção experimentou novos jogadores visando a Copa do Mediterrâneo, competição pela qual a Turquia enfrentaria a Itália em algumas semanas. Aproveitando-se do fato da Seleção não estar com sua força máxima o Fluminense promoveu um verdadeiro atropelamento.

Encerrando sua estadia em Istambul com quatro vitórias em cinco jogos, aclamado pelo público e pela imprensa local, o Fluminense rumou para Florença, onde enfrentaria a Fiorentina. A partir deste ponto da excursão o Tricolor jogaria em centros onde o futebol se encontrava em um estágio mais avançado e as dificuldades naturalmente passariam a ser maiores. Nesta partida por exemplo, dos 16 jogadores que a Fiorentina colocou em campo, nada menos que 12 haviam atuado ou viriam a atuar pela Seleção Italiana: Costagliola, Magnini, Chiappella, Rosetta, Orzan, Mariani, Virgili, Segato, Gratton, Sarti, Cervato e Prini. Isso sem falar no sueco Gunnar Gren, titular da seleção vice-campeã mundial em 1958.

Como era de se esperar o Fluminense começou a partida respeitando a Fiorentina, que foi melhor nos primeiros 20 minutos. Mas aos poucos o Tricolor foi tomando conta do jogo e aos 38 minutos abriu o placar com um gol de João Carlos. Gratton empatou para os italianos logo no início da segunda etapa mas o Flu seguiu dominando, com Didi no comando das ações. Waldo desempatou aos 24 minutos e pouco depois Pinheiro, outro que teve grande atuação anulando por completo as ofensivas da Fiorentina, deu números finais ao jogo marcando de pênalti. Vitória categórica por 3×1. Didi mais uma vez teve suas qualidades amplamente reconhecidas pela imprensa local. Essa foi provavelmente a vitória mais significativa do Fluminense na excursão.

Fiorentina

Fluminense 3 x 1 Fiorentina (La Nazione)

Curiosidade histórica: o Fluminense ostenta até hoje uma invencibilidade contra times italianos. Desde este primeiro confronto com a Fiorentina foram realizados 14 jogos, com dez vitórias do Fluminense e quatro empates. O Flu perdeu para a Seleção Italiana em 2014 mas nunca para um clube.

Após o jogo contra a Fiorentina a delegação tricolor visitou o Cemitério de Pistoia, pequena cidade vizinha à Florença, onde estavam enterrados os soldados da Força Expedicionária Brasileira que morreram em combate na Segunda Guerra Mundial. Os pracinhas, cujos restos mortais anos depois foram trazidos para o Brasil, foram respeitosamente homenageados pela delegação tricolor com um coroa de flores.

Pistoia

Delegação tricolor homenageia os pracinhas no Cemitério de Pistoia (Revista do Fluminense)

O Fluminense seguiu então para a Suíça onde enfrentaria o Lausanne Sports. Para fazer frente ao Tricolor o Lausanne se reforçou com vários jogadores de outro clube suíço, o Young Boys. Mas não adiantou: vitória do Fluminense por 3×2.

Lausanne

Fluminense 3 x 2 Lausanne Sports. Atuação soberba do Fluminense segundo a imprensa local.

De Lausanne o Fluminense rumou para Zurique afim de enfrentar o Grasshopper, time que lhe dera enorme trabalho três anos antes na campanha do título mundial (Copa Rio). Naquela ocasião, jogando no Maracanã, o Tricolor teve que se desdobrar para superar o ferrolho suíço e vencer por 1×0. Três anos depois o placar quase se repetiu. Victor abriu o marcador para o Fluminense no primeiro tempo com um chute de longa distância mas nos minutos finais da partida o iugoslavo Vukosavljevic (ou Vuko, como os suíços o chamavam pra facilitar) aproveitou-se de uma confusão na porta da meta do goleiro Veludo e empatou, encerrando assim uma sequência de cinco vitórias seguidas do Fluminense na excursão. Apesar de todos os clichês da época quando se falava em “ferrolho” toda vez que se enfrentava uma equipe suíça, o Grasshopper era um bom time. Russo, técnico do Fluminense, declararia na volta ao Brasil que este foi o jogo no qual o Fluminense encontrou maiores dificuldades.

Grasshopper

Fluminense 1 x 1 Grasshopper. Laffayette (2) disputa uma bola pelo alto (United Press)

De Zurique o Fluminense seguiu até a cidade portuária de Antuérpia, na Bélgica, para enfrentar o Valencia da Espanha. Nesta partida, por três vezes o Fluminense esteve em vantagem, por três vezes cedeu o empate. E o placar final de 3×3 agradou amplamente o público. O grande destaque do jogo foi sem dúvida o segundo gol do Fluminense, marcado por Escurinho. Após uma envolvente troca de passes entre Didi, João Carlos, Waldo e Telê, Escurinho acertou um tirambaço de 30 metros no fundo das redes espanholas. O lance foi aplaudido de pé pelo público presente no estádio.

Valencia

Fluminense 3 x 3 Valencia (Le Matin)

A seguir o Fluminense teria um adversário duro pela frente, o Racing de Paris. Se hoje o Racing está praticamente desaparecido do cenário futebolístico, na época era o principal clube da capital francesa. Assim como no jogo contra a Fiorentina alguns jogadores de nível internacional enfrentaram o Fluminense nesta partida. O zagueiro Roger Marche (Copas de 54 e 58), o meio-campista Mahjoub (Copa de 54), o goleiro Taillandier (Euro 1960), o austríaco Ernst Happel (este, além de ter jogado as Copas de 54 e 58 foi um grande treinador, sendo vice-campeão mundial em 78 com a Holanda e campeão europeu em 83 com o Hamburgo), além do brasileiro Yeso Amalfi.

O cartaz do Racing era bom mas em campo o Fluminense foi melhor. Apesar do jogo difícil, com uma bola na trave para cada lado e boas intervenções do goleiro Veludo, vitória tricolor por 2×0, gols de Miguel e Escurinho. Foi a primeira vez que o Fluminense jogou no famoso estádio Parc des Princes, palco onde conquistaria os Torneios de Paris de 1976 e 1987.

Racing

Fluminense 2 x 0 Racing de Paris. Intervenção do goleiro francês Taillandier (United Press)

Depois desse jogo o Fluminense retornou à Suíça, mais precisamente à cidade da Basileia, onde enfrentou o Basel e venceu com certa tranquilidade: 4×2. Dali seguiu para a pequena cidade francesa de Lens onde enfrentou o Lille, que dias antes havia conquistado a Copa da França, e obteve um empate por 3×3.

A próxima e última parada seria em Portugal, onde o Fluminense enfrentaria o Porto no Estádio das Antas. Os jogadores estavam empenhados em fechar a excursão com chave de ouro mas isso não foi possível graças a atuação bizarra do árbitro português Abel da Costa. O jogo valeu apenas pelos primeiros 35 minutos, enquanto os dois times estavam completos. Até ali o placar apontava 1×1 tendo Didi aberto o marcador para os tricolores. O Fluminense jogava melhor e os portugueses baixavam o pau (nas palavras de Didi). Foi então que o homem de preto entrou em ação. Após a marcação de uma falta para o time da casa, Laffayette, em uma atitude corriqueira no futebol, reteve a bola por alguns segundos para a defesa tricolor se recompor e depois jogou-a na direção do local da falta. O árbitro então resolveu expulsá-lo. Pinheiro, capitão da equipe, reclamou e também foi expulso. Com dois jogadores a menos ainda no primeiro tempo o jogo basicamente estava encerrado para o Fluminense. Aos 15 minutos do segundo tempo o Porto desempatou. Minutos depois foi a  vez de Escurinho ser expulso. Os portugueses então aproveitaram a vantagem de 11 jogadores contra 8 e marcaram mais um, fechando o placar em 3×1.

Porto

Porto 3 x 1 Fluminense (Jornal dos Sports)

A atuação escandalosa do árbitro logicamente causou revolta entre os tricolores. Em protesto a delegação não compareceu ao banquete em sua homenagem que seria oferecido pelo Porto após a partida. A paz entre os clubes foi selada um ano depois com um amistoso realizado no Maracanã. Sem nenhum jogador expulso o Fluminense venceu por 3×0 diante de mais de 100 mil pessoas.

A primeira excursão do Fluminense ao continente europeu chegava assim ao seu final com um saldo amplamente positivo de oito vitórias, três empates e duas derrotas. Na volta para casa um último contratempo: quando o vôo que trazia os tricolores já sobrevoava o Oceano Atlântico uma falha técnica fez com que a aeronave tivesse que retornar rumo à costa africana, aterrissando em Dakar. A chegada ao Rio de Janeiro aconteceu em 4 de Julho, 47 dias após o início da excursão.

Resumo5

Jogadores

Rua Marquês de Abrantes, 197. Foi aqui.

No post inaugural deste blog, Marco Zero, falei sobre a localização da casa de Horácio Costa Santos, na qual o Fluminense foi fundado. Como é sabido, a casa ficava na Rua Marquês de Abrantes, 51, na numeração da época. A novidade trazida naquele post era a declaração do fundador do clube, Alvaro Drolhe da Costa, de que ela ficava exatamente em frente à Rua Clarice Índio do Brasil.

Na verdade não era exatamente, mas quase isso. A informação dada pelo nobre fundador era um dica preciosa, mas ainda estava incompleta, vaga.

Estava.

Os documentos abaixo, obtidos na Secretaria Municipal de Urbanismo, encerram a questão. O antigo número 51 é o atual 197. Fica praticamente em frente à Rua Clarice Índio do Brasil, mas não exatamente. É necessário caminhar alguns metros à partir dali para chegar ao ponto exato.

Doc2b

Doc1b

No local hoje se encontram um prédio residencial, uma clinica veterinária e uma loja de auto-peças.

Já podemos portanto atualizar os livros de história para: o Fluminense Football Club foi fundado na Rua Marquês de Abrantes, número 51 (atual 197).

Agradecimentos: Maria Luiza Boltshauser e Anna Maria Boltshauser

Troféu Stevie Wonder

Se a FIFA instituísse essa honraria para fazer companhia ao Prêmio Puskas o bandeira que anulou o gol do Corinthians ontem seria desde já um concorrente quase imbatível, afinal, não é todo dia que se vê um impedimento tão mal marcado. Estupefato diante de um erro tão grosseiro, fiquei tentando lembrar lances semelhantes em jogos do Fluminense. Uma espécie de auto-desafio de memória e masoquismo. Lembrei de três, reunidos no vídeo abaixo.

Lance 1

O Fluminense em situação desesperadora no Campeonato Brasileiro de 1997 jogava uma de suas últimas cartadas pela permanência na Série A. O adversário era o União São João de Araras, único time abaixo do Flu na classificação. O jogo estava empatado e já se encaminhava para o fim quando André Miquimba cruza uma bola rasteira, Rogerinho passa por um mar de zagueiros e completa para o gol. O bandeira Marco Antônio Martins, de Minas Gerais, marca impedimento. Como se pode ver na imagem abaixo, congelada, haviam nada menos que cinco jogadores do União São João dando condições a Rogerinho, que ainda por cima estava atrás da linha da bola no momento do passe. Um erro digno de entrar para o Guinness.

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Lance 2

O Campeonato Carioca há muitos anos já virou um negócio tão folclórico, com tantos favorecimentos explícitos, que pouca gente ainda leva a sério. Mas as vezes eles se superam. Foi o que aconteceu na semifinal da Taça Guanabara de 2001 entre Fluminense e Americano. O Fluminense já vencia por 1×0 quando aos 11 minutos do segundo tempo, Marco Brito, em posição legal por uns cinco metros, aproveita um rebote do goleiro e marca. Além da enorme distância para o penúltimo homem da defesa do Americano (o goleiro), haviam três adversários à frente de Marco Brito no momento do chute de Agnaldo que ocasionou o rebote do goleiro. Não bastou. O auxiliar Luiz Antônio Leitão levantou seu instrumento de trabalho e o gol foi anulado. O analista de arbitragem Cláudio Vinícius Cerdeira (que expulsou dois jogadores do Fluminense na decisão do Campeonato Carioca de 1991) inicialmente diz que é “um lance difícil” (?!?), mas depois do replay muda o discurso para “erro muito grave”, um comentário mais compatível com as imagens. Pelo menos dessa vez o erro grotesco não influiu no resultado do jogo já que o placar de 1×0 se manteve até o fim.

Imped2

Lance 3

Campeonato Brasileiro de 2015, Fluminense e Corinthians se enfrentavam em Itaquera. A equipe paulista vencia por 1×0 até que aos 10 minutos do segundo tempo há um escanteio para o Flu. Scarpa cruza, Edson desvia de cabeça, a defesa do Corinthians tenta fazer a linha de impedimento mas deixa Cícero em condições. Este domina e marca o gol com facilidade. Apesar de Cícero estar em posição legal por mais de dois metros o auxiliar Fábio Pereira, da federação do Tocantins, anula o lance. O mesmo auxiliar já havia anulado um gol legal do Fluminense contra o Grêmio em Porto Alegre pela Taça Libertadores de 2013, jogo que terminou 0x0.

Imped3

Logicamente houveram centenas de outros erros de impedimento contra o Fluminense e alguns a favor, mas esses três são dignos de serem relembrados.

Homenagem à velha guarda

Uma das atrações da Flufest ocorrida no último sábado foi a homenagem a jogadores do Fluminense das décadas de 40 e 50. Originalmente seria uma homenagem aos campeões invictos do Torneio Rio-São Paulo de 1957, título que está completando 60 anos, mas acabou sendo mais abrangente, reunindo ex-jogadores e familiares de diferentes épocas.

Idealizada pelo amigo tricolor Jorge Priori e prontamente abraçada pelo Flu-Memória e incorporada à FluFest, a homenagem contou com a presença dos jogadores Jair Marinho (orgulhosamente representando também seu amigo Altair, que por questões de saúde não pôde comparecer), Joel, Emílio, Índio e Adalberto. Compareceram ainda familiares de alguns campeões do Rio-SP de 1957 que já nos deixaram: Marli, filha do volante Jair Santana, e família, Heloísa, esposa do lateral-direito Cacá e Marlene Bahiense, irmã do volante Ivan, e família. Era esperada também a presença de Escurinho, Jair Francisco e do goleiro Alberto, mas infelizmente isso acabou não ocorrendo.

fluminense.com.br 20.07.2017

Joel, campeão pelo Fluminense em 1951, e Jorge Priori, idealizador da homenagem. Foto de Mailson Santana/Fluminense FC

O evento foi organizado pelo próprio Priori com a ajuda de José Rezende, Valterson Botelho e com uma pequena colaboração deste que vos escreve, além da imprescindível participação do Flu-Memória, através de Dhaniel Cohen e Heitor D’Alincourt. Na cerimônia realizada no parquinho os jogadores receberam presentes do clube, entregues pelo presidente Pedro Abad. Depois seguiram para o gramado do estádio Manoel Schwartz onde por tantas vezes suaram a camisa tricolor, para receber o carinho dos torcedores.

Joel, Adalberto, Jair Marinho e Emilio

Eu tietando Joel, Adalberto, Jair Marinho e Emílio

Um merecido reconhecimento àqueles que ajudaram a escrever a vitoriosa história do Fluminense. Apresento abaixo um pequeno histórico de cada um dos homenageados.

Índio

Indio

Com 97 anos de idade é o jogador mais antigo do Fluminense ainda vivo. Veio do São Cristóvão e atuou pelo Tricolor nas temporadas de 1948 e 49. Jogava na linha média, geralmente como “half-direito”, mas também como “center-half” (lateral direito e volante numa analogia com o futebol atual) sempre de rede ou boina para evitar que os cabelos caíssem nos olhos e atrapalhassem sua visão durante as partidas.

Sua grande façanha pelo Fluminense foi a conquista do Torneio Municipal de 1948. Índio foi um dos destaques da heroica resistência que o Fluminense impôs ao expresso da vitória vascaíno no jogo decisivo. Orlando Pingo de Ouro abriu a contagem logo nos primeiros minutos da partida com uma linda bicicleta e a defesa tricolor, atuando com bravura, garantiu o resultado até o fim. O Fluminense jogou quase todo o segundo tempo com dois jogadores apenas fazendo número em campo. O zagueiro Haroldo e o centroavante Rubinho se contundiram e na época não eram permitidas substituições. Foi uma autêntica proeza. Fato curioso é que Índio havia se casado naquela tarde e teve que ir da igreja diretamente para General Severiano, onde o jogo foi disputado à noite.

Outra curiosidade sobre Índio, que fez 97 jogos e 6 gols pelo Fluminense, é que ele foi um dos fundadores da escola de samba Imperatriz Leopoldinense.

Emílio

Emilio

Foi um meia que veio do Ferroviário de Curitiba (avô do Paraná Clube) e assim como Índio jogou pelo Fluminense no biênio 1948-49, participando da memorável conquista do Torneio Municipal de 1948. Fez 26 jogos e 10 gols pelo Fluminense.

Estudante de engenharia, acabou optando por abandonar precocemente a carreira de jogador, aos 24 anos, devido às dificuldades de conciliá-la com os estudos.

Fez longa e bem sucedida trajetória na vida pública ocupando cargos importantes tais como Presidente da ADEG, órgão que administrava o Maracanã, secretário de obras públicas do estado, diretor de Furnas, presidente da CBTU, entre diversos outros.

Com 91 anos de idade a memória do simpático jogador impressiona. Ainda lembra com detalhes diversos jogos em que atuou. Em especial o gol de sem pulo que marcou em um Fla-Flu de 1949 vencido pelo Fluminense por 5×2.

Adalberto

Adalberto

O goleiro Adalberto jogou 54 vezes pelo Fluminense no período de 1950 a 1955. O número relativamente pequeno de partidas se explica pelo fato de ter sido contemporâneo de dois dos maiores goleiros da história não só do Fluminense mas do futebol brasileiro: Castilho e Veludo. Quando os dois estavam na Seleção Brasileira para a disputa da Copa do Mundo de 1954, Adalberto viveu seu melhor momento nas Laranjeiras, sendo titular na campanha do Torneio Rio-São Paulo daquele ano, quando o Fluminense foi vice-campeão. Na sequência, ainda como titular, levantou o título do Torneio Início.

Como reserva, Adalberto fez parte do elenco campeão carioca de 1951 e da Copa Rio/Mundial de 1952. Nas categorias de juvenil e aspirantes foi campeão carioca por sete anos consecutivos no Fluminense. Juvenil entre 1948 e 1950, aspirante de 1951 a 1954.

Foi ainda preparador físico da Máquina Tricolor do presidente Francisco Horta nos anos de 75 e 76.

Jair Marinho

Jair Marinho

Surgiu no time juvenil do Fluminense que conquistou o Campeonato Carioca de 1955. Aquela equipe revelou uma série de jogadores que viriam a compor o elenco profissional do clube no final dos anos 50, tais como Altair, Alecyr, Romeu, Roberto, o goleiro Alberto (que também seria homenageado na FluFest, mas infelizmente não compareceu) e Écio, este último tendo jogado com mais destaque pelo Vasco.

Em 1957 fez sua estreia no profissional tendo feito parte do grupo que levantou o título do Rio-São Paulo daquele ano na reserva de Cacá (outro homenageado do dia). No mesmo ano foi campeão carioca de aspirantes.

A partir de 1958 começou a figurar como titular, sendo um dos destaques do timaço que levantou o Campeonato Carioca de 1959 e o Rio-São Paulo de 1960. Suas grandes atuações com a camisa tricolor o levaram à Seleção Brasileira, tendo sido convocado para a Copa do Mundo de 1962.

Durante um jogo contra o Botafogo pelo Rio-São Paulo de 1963 fraturou a tíbia após uma entrada violenta do atacante Amarildo, em dia de “possesso”. Durante o longo período de recuperação perdeu a posição para Carlos Alberto Torres, promovido dos juvenis, e acabou se transferindo para a Portuguesa-SP no ano seguinte.

Fez 258 jogos pelo Fluminense.

Joel

Joel

Também oriundo das categorias de base o ponta-esquerda Joel fez sua estreia no time profissional em 1948. Seu melhor momento no Fluminense foi na campanha do título carioca de 1951. Era o titular e cobrador oficial de pênaltis do time, marcando 7 gols naquela campanha vitoriosa.

Fez 61 jogos e 18 gols pelo Fluminense. Cita como jogo inesquecível a vitória sobre o Bangu por 5×3, no primeiro turno do campeonato de 51.

Foi também campeão de aspirantes em 1951 (embora fosse titular nesse ano, fez 4 partidas no campeonato de aspirantes), 1952 e 1953.

Aos 86 anos permanece ligado ao clube sendo atualmente funcionário do Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras, em Xerém.

Jair Santana

Jair Santana

Veio do Olaria em 1952 e jogou no Fluminense até 1960 totalizando 332 jogos e 8 gols pelo clube. Jogava na linha média, como volante, e colecionou títulos nas Laranjeiras, a saber: Copa Rio/Mundial em 1952, Campeonato Carioca em 1959, Torneio Rio-São Paulo em 1957 e 1960, Torneio Início em 1954 e 1956, Torneio José de Paula Júnior em 1952 e Copa das Municipalidades em 1953.

Tive a honra de conhecê-lo em 2012, durante as comemorações dos 60 anos do mundial de 52. Era então o último titular vivo daquele título.

Cacá

Caca

Oriundo do América, precedeu Jair Marinho na lateral direita tricolor, onde jogou de 1955 a 1958, totalizando 124 jogos.

Abra-se um parêntesis: com Píndaro, Cacá, Jair Marinho, Carlos Alberto Torres, Oliveira, Toninho e novamente Carlos Alberto Torres, o Fluminense teve uma sequência extraordinária de grandes laterais direitos entre os anos 50 e 70.

Cacá foi campeão do Torneio Início de 1956 e do Torneio Rio-São Paulo de 1957. Faleceu muito recentemente, no dia 7 de junho último, aos 84 anos de idade.

Ivan

Ivan

Assim como Cacá o volante Ivan veio do América, clube que defendeu por muitos anos e onde figurou em grandes times, chegando a ser convocado para a seleção. Já era um jogador na casa dos 30 anos quando foi contratado pelo Fluminense. Estreou na segunda rodada do Torneio Rio-São Paulo de 1957, quando o Tricolor goleou espetacularmente o Palmeiras por 5×1. O time se encaixou de tal forma com sua entrada que não saiu mais, atuando em todos os jogos até a conquista do título. Ficou nas Laranjeiras até 1959 totalizando 79 jogos e 6 gols.

Na próxima semana voltarei ao tema do post “Marco Zero”. Há novidades.

A imagem que ilustra o post é de Mailson Santana/Fluminense FC